Falar tudo que tem em mente, e até o fim, enquanto o outro ouve até o fim é sempre é uma boa forma de
comunicação?
Nem sempre.
Primeiro, o que você tem em mente pode parecer invasivo em relação ao
que o outro tenha em mente para ele. Fique atento(a) ao contexto relacional. Por
exemplo, dar uma notícia triste quando uma pessoa está alegre ou sentindo-se frágil
não é coerente. Discorrer sobre um assunto de seu interesse mas que não seja também do outro, é chato e
invasivo.
Além disso, um diálogo sobre intenções e desejos não é da mesma
qualidade do que outro centrado em um planejamento e em resultados previamente estabelecidos.
Nesse caso, o quanto mais mais eficiente , eficaz e efetivo for o diálogo, ou
seja, com o mínimo de interações com o máximo de resultados de melhor qualidade,
no menor tempo. Dialogismo operacional busca a eficiência, eficácia e
efetividade. Para isso você precisa definir qual é o resultado pretendido. É
assim na atividade esportiva, na execução de tarefas em casa e na maior parte da sua vida no trabalho.
Entretanto, resultados bem definidos e de alta qualidade não caem do céu
nem brotam da terra. Eles se definem na interação. Na cultura tradicional na
qual fomos criados, as metas já estariam dadas e os resultados já seriam
pré-definidos. Não haveria necessidade de construí-los. Isso é um engano. Nenhum
resultado autêntico é alcançado de fora para dentro ou de cima para baixo.
Primeiro as pessoas descobrem o que desejam juntas. Desejar é um
sentimento de compatibilidade, atração e não uma intenção voltada para a ação. Duas pessoas ou mais pessoas precisam
conhecer-se, descobrir suas afinidades, para depois imaginar e decidir o que querem
ou não querem realizar juntas. O diálogo criativo, ao contrário do operacional,
é caracterizado pela não diretividade, não linearidade e a suspensão de crenças
e juízos a respeito do que seja o modo certo ou errado. As pessoas vão interagindo
para ver e sentir no que dá, na esperança de que aconteça uma afinidade e
sinergia de desejos. É a fase exploratória do exame de uma experiência regido
por sentimentos de simpatia, sinergia e percepção de convergências. Não há
hipótese a respeito de onde se queira chegar no
sentido comportamental e sim afetivo.
Uma analogia interessante nesse caso é o jogo da cabra (ou gata) cega:
um jogador tem olhos vendados e roda em torno do seu eixo até ficar
desorientado. Então dá passos para se localizar se está aproximando-se ou
afastando-se do alvo (uma moeda em alguma coisa jogada aleatoriamente no chão, por
exemplo). O jogo “esquenta” se aproximar-se dela e “esfria” se afastar-se. O
sujeito precisa montar um modelo mental de referência para saber quando está
indo ao encontro ou afastando-se do alvo. Um exemplo de dialogismo centrado em objetivos:
gincanas, jogos competitivos e de desempenho. No dialogismo criativo o centro
das atenções é a descoberta; no operacional, é o desempenho.
Mesmo centrado em desempenho, ocorrem
momentos de criação e inovação voltados para a utilização. Quando isso acontece,
tanto pode abreviar de forma surpreendente o resultado final quanto necessitar
de uma redefinição estrutural do que se queira, como, quando, com quem e aonde.
A inovação pode ser para acelerar o desempenho logo em seguida ou
implicar numa retomada do que realmente interessa. Ambos os jogos dialógicos
são cooperativos e estão mutuamente implicados.
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