Maio, 13/2016
O excesso de estudos sobre o comportamento têm deixado em segundo plano o estudo da consciência reflexiva.
Podemos perceber juntos um evento físico e termos consciência (ou seja,
estarmos cientes juntos) disso, seja da existência de uma mesa, cadeira até a
realização de um gesto, uma expressão verbal etc. A interpretação do que percebemos
em conjunto é praticamente implícita quando participamos de uma mesma cultura,
utilizando os mesmos objetos e equipamentos. Examinar pensamentos é outra
coisa. Muitas vezes não “paramos para pensar”,
examinar reflexivamente, os nossos pensamentos antes ou durante a sua
realização enquanto comportamentos. Após é bem mais comum que a gente perceba e
julgue com coerência a adequação ou não do que fizemos “sem pensar” (pensar
automaticamente sem refletir) ou pensar de forma equivocada nos seus
pressupostos ou na tomada de decisão.
Nesse artigo vamos tratar da condição decisiva da subjetividade na
percepção dos nossos pensamentos (se você é consciente de seus pensamentos,
então percebe a sua existência e então pode decidir a respeito ou se eles são
automáticos e quando você se dá conta, já aconteceram e desencadearam ações
impensadas. Examinaremos , de suas percepções físicas (coisas vistas ouvidas e
sentidas, incluindo a tomada de decisão e o exame das ações e
seus resultados e efeitos.
Querer uma coisa, objeto concretos ou ideias abstratas são coisas, é
diferente em qualidade e complexidade do que perceber, compreender ou querer pessoas.
Daí a diferença radical que advogamos para um conceito de redes humanas irredutível
ao de redes de informações, cibernéticas ou de outras coisas, por mais que
essas criações de redes humanas possam servir de forma limitada e limitante
para compreender a nós mesmos.
Por exemplo, se eu digo eu quero que você (diga, faça, perceba, sinta,
etc.) para mim, por minha causa ou em meu lugar ao invés de explicar o que eu
quero e perguntar o que você quer, temos uma confusão de posições interativas.
E mais: o que eu ou você queremos não se reduz ao que nós somos. Isso (esse
modo de pensar) muda tudo. Não somos coisas; somos pessoas, ou seja, somos o
que somos; não precisamos justificar a si mesmos nem aos outros quem somos. É
uma experiência íntima. Então é uma emoção? Sentimento? Afeto? Não eu tenho
sentimentos, emoções e afetos e não sou em particular nada com relação à cada
um deles em particular.
Façamos uma analogia para poder compreender melhor: você sente a ponta do
dedo do seu pé direito? E agora da sua orelha esquerda? E agora da ponta do seu
nariz? E em seguida, o seu cotovelo esquerdo? Poderemos continuar ao infinito e
todas as percepções individuais serão partes de você. E não você. Mesmo a
percepção que o sujeito tem de seu corpo todo não é ele. Eu não sou quem eu
percebo como sendo. Minha percepção torna-se imediamente uma coisa para mim.
Por isso eu posso mexer com ela e transformá-la. Não há como confundir criatura
e criador: você pensa que seu corpo é você. Isso é o que você pensa e não o que
você é.
A pergunta então é: o que eu e
você somos ou quem eu e você somos?
Se eu quero X coisa, tenho Z impressão ou penso de Y maneira, isso não é
quem eu sou e não é a expressão do meu desejo de ser e sim de ter. Não se trata
de pouca coisa e sim de qual é a realidade de uma relação humana.
A relação humana não é uma coisa ou uma abstração como estamos
acostumados a pensar por séculos, no dia a dia. A relação eu – Tu, é real e psicologicamente acessível de forma subjetiva
e intersubjetiva. Somos criadores e inventamos coisas e até modificamos
criaturas e a nós mesmos com inovações tecnológicas. Por exemplo, temos evidências
de pesquisas sobre como se passa nossa atividade perceptiva, linguística,
tomadas de decisão e mesmo o modo como pensamos reflexivamente.
O mapa
investigado não é o território e sim serve para orientar nossa ação nele. (Korzybsky,
A., 1936). Se usamos pesquisas com controle de variáveis e fixação do objeto de
estudo, recortando cirurgicamente “a coisa” que o investigador pretende
investigar, o resultado torna-se o
espelho da coisa estritamente assim tratada ( como coisa limitada) e não de uma
função complexa das redes de relações humanas reais. Não vamos esperar achados
que possam ser aproveitados em situações de alta interatividade e altamente
complexas, plenas de fatores afetando-se mutuamente como são as redes de
relacionamento humano.
Não somos nem mesmo semelhantes àquilo que criamos, desde nossos pensamentos,
percepções, sentimentos e emoções impressões, interpretações, até nossos
movimentos X da questão- Quem ou O Quê?
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