O X da questão- Quem ou O Quê?

By | 16.5.16 Deixe um comentário
O X da questão- Quem ou O Quê?
Sergio Spritzer
Maio, 13/2016

O excesso de estudos sobre o comportamento têm deixado em segundo plano o estudo da consciência reflexiva. 
Podemos perceber juntos um evento físico e termos consciência (ou seja, estarmos cientes juntos) disso, seja da existência de uma mesa, cadeira até a realização de um gesto, uma expressão verbal etc. A interpretação do que percebemos em conjunto é praticamente implícita quando participamos de uma mesma cultura, utilizando os mesmos objetos e equipamentos. Examinar pensamentos é outra coisa.  Muitas vezes não “paramos para pensar”, examinar reflexivamente, os nossos pensamentos antes ou durante a sua realização enquanto comportamentos. Após é bem mais comum que a gente perceba e julgue com coerência a adequação ou não do que fizemos “sem pensar” (pensar automaticamente sem refletir) ou pensar de forma equivocada nos seus pressupostos ou na tomada de decisão.  

Nesse artigo vamos tratar da condição decisiva da subjetividade na percepção dos nossos pensamentos (se você é consciente de seus pensamentos, então percebe a sua existência e então pode decidir a respeito ou se eles são automáticos e quando você se dá conta, já aconteceram e desencadearam ações impensadas. Examinaremos , de suas percepções físicas (coisas vistas ouvidas e sentidas, incluindo a tomada de decisão e o exame das  ações  e seus resultados e efeitos.
Querer uma coisa, objeto concretos ou ideias abstratas são coisas, é diferente em qualidade e complexidade do que perceber, compreender ou querer pessoas. Daí a diferença radical que advogamos para um conceito de redes humanas irredutível ao de redes de informações, cibernéticas ou de outras coisas, por mais que essas criações de redes humanas possam servir de forma limitada e limitante para compreender a nós mesmos.
Por exemplo, se eu digo eu quero que você (diga, faça, perceba, sinta, etc.) para mim, por minha causa ou em meu lugar ao invés de explicar o que eu quero e perguntar o que você quer, temos uma confusão de posições interativas. E mais: o que eu ou você queremos não se reduz ao que nós somos. Isso (esse modo de pensar) muda tudo. Não somos coisas; somos pessoas, ou seja, somos o que somos; não precisamos justificar a si mesmos nem aos outros quem somos. É uma experiência íntima. Então é uma emoção? Sentimento? Afeto? Não eu tenho sentimentos, emoções e afetos e não sou em particular nada com relação à cada um deles em particular.
Façamos uma analogia para poder compreender melhor: você sente a ponta do dedo do seu pé direito? E agora da sua orelha esquerda? E agora da ponta do seu nariz? E em seguida, o seu cotovelo esquerdo? Poderemos continuar ao infinito e todas as percepções individuais serão partes de você. E não você. Mesmo a percepção que o sujeito tem de seu corpo todo não é ele. Eu não sou quem eu percebo como sendo. Minha percepção torna-se imediamente uma coisa para mim. Por isso eu posso mexer com ela e transformá-la. Não há como confundir criatura e criador: você pensa que seu corpo é você. Isso é o que você pensa e não o que você é.
A pergunta então é: o que eu e você somos ou quem eu e você somos?
Se eu quero X coisa, tenho Z impressão ou penso de Y maneira, isso não é quem eu sou e não é a expressão do meu desejo de ser e sim de ter. Não se trata de pouca coisa e sim de qual é a realidade de uma relação humana.
A relação humana não é uma coisa ou uma abstração como estamos acostumados a pensar por séculos, no dia a dia. A relação eu – Tu,  é real e psicologicamente acessível de forma subjetiva e intersubjetiva. Somos criadores e inventamos coisas e até modificamos criaturas e a nós mesmos com inovações tecnológicas. Por exemplo, temos evidências de pesquisas sobre como se passa nossa atividade perceptiva, linguística, tomadas de decisão e mesmo o modo como pensamos reflexivamente. 
O mapa investigado não é o território e sim serve para orientar nossa ação nele. (Korzybsky, A., 1936). Se usamos pesquisas com controle de variáveis e fixação do objeto de estudo, recortando cirurgicamente “a coisa” que o investigador pretende investigar,  o resultado torna-se o espelho da coisa estritamente assim tratada ( como coisa limitada) e não de uma função complexa das redes de relações humanas reais. Não vamos esperar achados que possam ser aproveitados em situações de alta interatividade e altamente complexas, plenas de fatores afetando-se mutuamente como são as redes de relacionamento humano.
Não somos nem mesmo semelhantes àquilo que criamos, desde nossos pensamentos, percepções, sentimentos e emoções impressões, interpretações, até nossos movimentos X da questão- Quem ou O Quê?
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